Sabia que fazia parte de um passado distante, mas não enxergava em suas memórias.
Sua desculpa era de que visualizava o pouco que tinha do seu passado em preto e branco, portanto, alguns detalhes se perdiam, tudo era muito confuso.
Mas esse sonho era colorido.
Caia em contradição, quando tentava lembrar. Um dia pensava ser artista (daquelas bem bonitas), lembrava que não era tão bonita e de que o talento faltava: "Não consigo mentir nem a mim mesma".
Depois, resolveu ser cantora, encontrava em algumas notas a sua ausência de ritmo. Seu sonho não tinha voz.
Tudo o que lembrava anotava, para não se perder no dia seguinte. Quando acordava, tudo era a igual, o mesmo quarto branco, a mesma cama.
Diariamente eram as mesmas anotações, tentava lembrar o passado para construir um futuro.
Algo colorido surgiu, sua médica lhe fazia várias perguntas, ela tinha a resposta. Tinha a resposta. Em algum lugar estava.
A amnésia lhe veio à mente, chegou a conclusão de que seus sonhos nunca seriam realizados, eles tinham cores, tal qual a sua pior lembrança que ressurgiu: a de que nunca mais se lembraria de nada.
E anotou para não esquecer.